domingo, 1 de julho de 2012

A emergente música independente


Publicado em em Karina FrancisMatériasReportagens
Texto: Karina Francis
As últimas décadas foram marcadas por intenso avanço tecnológico, que se reflete em mudanças significativas na sociedade em geral. Na música não foi diferente. A mudança foi drástica devido o desenvolvimento da internet e de todos os elementos comunicacionais que surgiram por meio dela. Se a internet foi uma revolução muito importante no contexto mundial, certamente o que ela fez no cenário independente foi uma revolução dentro da revolução. Isso porque a internet possibilita a conexão com um grande número de pessoas, rompendo assim barreiras geográficas e possibilitando grande intercâmbio cultural, fazendo com que o conceito da palavra “independente” ganhe outras interpretações. Com isso, a música independente ganha espaço para a discussão sobre o “que é ser independente?”. Antes de entrar nesse assunto, é importante conhecer um pouco mais sobre essa história.
O início da música indie
Muitas pessoas acreditam que a cultura do independente nasceu com o movimento punk na década de 1970. Foi nesse período em que ela se disseminou pelo mundo. Entretanto, seus primeiros registros são datados da década de 1950, quando diversas pequenas gravadoras nasciam nos Estados Unidos. Essas gravadoras eram de associações das comunidades afro-americanas, que produziam seus materiais de forma autônoma, já que eram poucos os artistas negros que conseguiam destaque na mídia comercial. Assim, eles se organizaram em pequenos grupos e produziram seus trabalhos com os recursos disponíveis na época.
Foi na década de 1970 que surgiu o movimento punk “Faça você mesmo”. O movimento ganhou notoriedade porque não esperava aval de grandes empresas para lançar suas obras. As pessoas optavam por maneiras mais artesanais, e passavam a assumir o papel de patrocinadores dos seus trabalhos.
A ideia central era ter responsabilidade total sobre a obra, e todos os direitos sobre a mesma. Esse movimento não se restringe à música, se estende por todos os segmentos artísticos. Ele foi revolucionário porque motivou inúmeras pessoas a produzirem, sem que, para isso, estivessem incorporadas a grandes empresas. No caso da música, eram grandes gravadoras. Além disso, o conceito do “Faça você mesmo” possibilitava liberdade de criação, ou seja, não existiam regras, nem padrões a serem seguidos. Cada um produzia de acordo com sua vontade. Neste período houve uma explosão de trabalhos no segmento da música independente e de eventos relacionados ao cenário underground.
A indústria fonográfica
A primeira gravação do qual se tem registro no Brasil é da década de 1910: um samba escrito por Donga e Mauro de Almeida. Era uma gravação totalmente mecânica, reproduzida por fonógrafos. Em 1928, surge a gravação elétrica, predominando os 78 RPM, que continham uma ou duas músicas de cada lado. A melhora da qualidade das gravações só aconteceu em 1950 quando já era possível fazer a mixagem dos discos. Assim, o LP passou a substituir o 78 RPM, agrupando um número maior de músicas. Nos anos 1960 e 1970 as gravadoras passam a criar catálogos de música, ou seja, estabeleciam um padrão de músicos de qualidade. Quem não estivesse nesse catálogo estava excluído da “lista” do que era considerado bom. O catálogo brasileiro incluía músicos como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, entre outros.
Nesse período, as etapas de produção começam a se tornar mais sofisticadas. Desse modo, passaram a custar caro. Portanto, as gravadoras investiam apenas em quem interessava. O lucro passa a ser objetivo maior do que a fomentação da cultura. As majors, como são chamadas as grandes gravadoras, não só determinavam o que as pessoas iriam consumir como música, mas também qual era o estilo do momento, os artistas do momento, o som do momento. Entende-se por majors, as seguintes gravadoras Sony, BMG, Som Livre e EMI.
Nos anos 1980, os LPs passaram a ter custos altíssimos devido a duas crises mundiais de petróleo. Nessa condição, o espaço para viver de música no Brasil era para poucos. Foi nesse período que a música independente no país deu seu primeiro passo com a abertura de pequenas gravadoras. Em 1990, os custos de produção começaram a diminuir por causa dos recursos digitais, que começam a circular. O que parecia ser o declínio da indústria fonográfica era certamente a força das indies, nome pelo qual as gravadoras independentes são conhecidas. O cenário underground começa a ganhar forma física, e, de maneira tímida, consegue explorar o mercado. Atualmente, as gravadoras independentes estão desenvolvendo trabalhos de altíssima qualidade, e possuem estrutura semelhante as das majors.
Mas a grande questão entre as gravadoras comerciais e as independentes é a forma como é enxergado o negócio da música. Um artista independente recebe todos os lucros do seu trabalho, dos shows e dos CDs. Em longo prazo, será possível pagar os custos de produção e ainda obter lucro. Se o projeto contar com alguma lei de incentivo à cultura, praticamente todos os gastos já estão previstos no projeto. Se compararmos essa realidade com a de um contrato padrão de uma major, percebemos uma grande diferença: o rendimento para o artista fica somente em torno de 5% do que é vendido. Assim, torna-se possível que um artista independente, dependendo da sua carreira e do seu público, tenha um retorno financeiro com seus CDs no mínimo igual ao de um contrato com uma major, mesmo que a quantidade produzida seja significativamente menor.
Underground x Mainstream
O ambiente onde circulam as bandas independentes é conhecido como underground, que segundo o dicionário Aurélio, significa “subterrâneo”, expressão usada para designar algo que foge dos padrões comerciais, dos modismos, que está fora da grande mídia.
A expressão “deixou o underground”, ou “saiu do underground”, refere-se a artistas ou movimentos que se tornaram populares e adquiriram notoriedade para conquistar o grande público, passando a fazer parte do mainstream. Este último termo é disseminado principalmente pelos meios de comunicação de massa e muitas vezes é usado de forma pejorativa para artistas que apelam para fórmulas tradicionais para conquistar público e dinheiro com sua arte.
Entende-se que o conjunto de práticas que as bandas independentes estão configurando no mercado alternativo está formando um conceito de cultura fora do eixo, termo utilizado para aqueles que divulgam seu trabalho atráves de mídias alternativas.
Situações novas pedem conceitos novos
Que artistas independentes são aqueles que não estão vinculados a grandes gravadoras e que possuem controle de suas obras é fato. Ainda assim, a música independente brasileira vive uma fase de definição. Isso porque, a internet como ferramenta de divulgação ainda tem muito por oferecer, e não existe ainda controle sobre isso. Em certos casos, a facilidade de produzir, gravar e disponibilizar na internet acabou deixando o mercado musical inchado devido à imensa variedade de bandas e sons, muitas vezes sem critérios de qualidade sonora. Mesmo assim, não se pode misturar esses fatos com o mercado da música alternativa, que a cada dia apresenta crescimento nos padrões de qualidade.
Ser independente não é ser sozinho. Afinal, no mundo virtual em que vivemos, nunca se está sozinho. Por isso, o conceito de “independência” ganha novas interpretações.
A emergente música independente brasileira já se configurou culturalmente e saiu da marginalidade há algum tempo, não configurando a classe de músicos excluídos. Muito pelo contrário, ela está mais resistente a cada dia e com uma oferta de músicos de alto padrão, consolidando cada vez mais seu espaço no mercado atual.

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